domingo, 12 de fevereiro de 2017

Númeno




A arte não é espelho
É ferramenta para mudar
O mundo
Disse um poeta
Mais alto
Alguns centímetros
Mais triste
Eu

Demorei mas
Aprendi a dificuldade
De pensar
De ser uma árvore
De ser Artaud e uma árvore
De ser uma árvore cega a esticar os dedos
O encontro de vida ao virar o rosto e já ser
O encontro de morte
Com o sol
Mas ainda é mais difícil
Ainda, sim, ainda
É mais difícil amar
É preciso criar o tempo
A tempo
De desencontrá-lo
Outro tempo
Desfeito
Superado
Inexistente
A criação da invenção da inversão do tempo
Absolutamente atemporal
Absolutamente existente
Quando pudermos
Tocar
A ideia sem pensamento
O sentir e o devir
No gesto pleno de afeto
Um tempo no pensamento e então
O início de uma apoteose sem platéia
O ensaio de um dedo
A grande travessia de uma lágrima pelo deserto
Teu rosto sempre foi uma miragem
O mergulho na escuridão do olho esquerdo
Que só
Fecha

Nos abraçamos na parada de ônibus
Enquanto países entravam em guerra
Enquanto políticos ganhavam em guerra
Enquanto pessoas melhores do que nós
Escreviam o seu nome na história
Com prêmios
Louros
Glórias
E outras perfumarias
Que os cavalos passam e não reconhecem

Começamos a pensar
Nossos corpos se desmancham no interior do interior do mundo
Comprazidos pelo escarro
Do nosso amor proletário
Despertando uma morna simpatia
De um anjo antipático
Voamos rápido
Alquebrados
Coloridos
Doloridos
Dentro do nosso tempo
Dentro do nosso pensamento
Abolidos e imanentes
Refletimos o amor através da curiosidade perversa
De velarmos nossa mais profunda dor
No último dia
Das nossas vidas

Um de nós
Estará lá

Todos os cavalos que eu criei
Abismam

Tiago André Vargas

12.02.2017


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