Quando
eu morri
Meu
neto escreveu um livro
E
descreveu nele minhas mãos
Como
grandes aranhas albinas
Sua
juventude temia minhas mãos brancas
Os
dedos truncados de enxada
Enxofre
E
todos os êxodos que nunca me permiti
Mas
agora que estou morto
Ele
sente minha falta
E
a dor faz com que não tenha mais medo
Das
aranhas albinas
Negras
Pardas
E
eu também sinto sua falta
E
do mesmo jeito que ele nunca me disse
Que
minhas mãos pareciam aranhas brancas
Eu
nunca lhe disse que a luta é inevitável
E
a dor tem oito patas
A
tecer coisas belas
Que
nem sempre viram pedras
Enquanto
durar o sol da manhã
A
brilhar nos nossos oito olhos
Como
um lago muito fundo
Que
eu mergulhei só um pé
Teu
pé é branco, Tiago
Mas
teu coração, não
O
teu sangue dói e pinta as pedras do rio
Mas
também é a teia
Que
junta a ti
Agonia
de pontes finas
Cordões
de fendas
E
coisas belas
E
pequenas
Que
quando vibram
Você
corre veloz
Elas
devem ser protegidas
Se
possível vivas
Nós
dois sabemos que
Quando
acabar o sol da manhã
A
noite denunciará esta brancura
De
que nunca conseguimos nos ver livres
José Villa Vargas
24.12.2017