Você
me olha como uma porra. Você me olha como uma mulher feliz no zoológico no
momento excelso: a jaula do leão. Você me olha como uma mulher que não leu
Beauvoir e teme a beleza do fio de cobre na garganta de um amante de diamante, pensando
que, se não é vaidade, deveria ser amor. Você não diz isso para o leão, que
sou. Você joga uma pipoca pela grade. Ela tem sal. Cai no meu olho. De leão. Eu
poderia rugir, mas, sefoder. Você
jogou uma pipoca pelo meu bem. Você jogou uma pipoca porque você possui uma
pipoca e é isso que se espera de alguém com uma pipoca. Você. Sefoder. Deixo meu pau de leão rubro e
inchado, como se trinta e duas abelhas tivessem picado minha pica. Você fica
tão vermelha quanto minha glande. “Que horror”. A vida é um horror, queria poder dizer, esse pau é um presente. Mas só posso rugir. E eu não vou rugir. Se
eu rugir as pessoas jogarão mais pipocas, as pessoas tentarão tirar a foto
excelsa da minha boca aberta. (Eu aprendi hoje a palavra ‘excelso’ no
dicionário de pensamento felino). As pessoas gostam das garras, dos dentes,
gostam de dizer que gostam das garras, dos dentes, mas as pessoas fogem de um
leão solto. As pessoas não suportam o olhar frontal de um animal livre. Não
suportam um pau roxo da cor do palato do céu do sentimento. “Você parece um
leão com esse cabelo. Deveria cortar”. Ela me olhava de baixo para cima. Um
ângulo que favorece minha juba. Ela corre os dedos pela minha juba. Ela olha
com fascínio minha juba. É o momento que nasce ou morre o amor. EU SEMPRE QUIS
TER CONSCIÊNCIA DESSE MOMENTO. Se eu falar que cortarei o cabelo bang! O amor está morto. Não sabia se o queria
vivo. Sempre quis a consciência desse momento e agora me arrependo de tê-la. Eu
aprendi que a morte é algo ruim. Sempre. Eu deveria ter lido Céline ao invés do
dicionário de pensamento felino. Eu falei: “Sefoder.
Sou a porra de um leão”. O amor que nasce de uma contradição é dois miligramas
mais forte. Ela me olhou como Beauvoir o fez com Algren, quando descobriu que o
pau e a vida de alguém que sente são muito mais interessantes do que o pau e a
vida de alguém que pensa. Ela. A cabeça apoiada no meu colo. O olhar de baixo
para cima. O meu pau cutuca a sua nuca, ela sorri, meu pau cutuca novamente, ela
sorri e fica angustiada, sabe que a próxima cutucada é só uma questão de tempo,
que acontece, ela dá uma gargalhada e abraça minha barriga. Volta. Fica séria.
Olha para os meus olhos de leão sincero e de pau inflado. “Sefoder. Sou a porra de uma mulher”. Se ela falasse, o amor
nasceria em mim. Ela não falou. Em um silêncio mágico de vidro agitando o
alívio do vento alísio ela me deu sete orgasmos, um par de asas e um rabo de
serpente. Ela montou em mim. Colocou a serpente ao redor do pescoço delgado,
como se fosse um cachecol verde com olhos malignos de rubi, depois deu um tapa
na minha anca e gritou: “Avante!”. Eu bati minhas asas de grifo. O céu nos
abraçou. O céu tinha passado perfume de ameixa. “Vamos para onde?”. Sou um leão
taxista das galáxias. “Me leva para onde você tem medo”. Existem várias
oportunidades para o amor nascer na floresta da catarse.
Ela
mordeu meu pescoço, enquanto voava.
Eu
rugi.
29.11.2015
Tiago André Vargas
Adorei!
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