segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Lírios brancos e as vigas do teu corpo




Neruda fechou meus olhos
Abriu minhas narinas
Me ensinou a palavra certa
Escrita sobre argila
Como um belo mercador negociando sua dor
Cheiro
Por
Olor
Incapaz de parar uma tempestade com meu sorriso de estanho
Mas de olhos fechados e narinas bem abertas
Abraçando o aroma do teu corpo
Sentindo não mais teu cheiro
Estranho
Mas teus olores
Mantos
Mantos envoltos na minha sincera caveira
Embriagando minha têmpora e meus sapatos
É um tremelico no umbigo
Um certo embaraço
Cheira meu corpo
Você me dizia
Cheira meu corpo
Sou feita de lírios e minhas vigas obreiro nenhum criou
Só teu amor que vem negro
No meio dessa tempestade desflorei-o
E vem a tempestade intempestiva
Minha face tão limpa quanto um telhado de vidro
Sem fogo
Me infesta
Tempo dela
Nada posso fazer com meus olhos verdes
Tempestade sem minha metade é um mar de morosidade
Estou só
Estou um e meio
Carregando nas costas uma meia lembrança
Segurando nas mãos um lírio partido ao meio
De narinas bem abertas
Pronto para trocar toda minha dor
Por um pedaço do olor que brota na tua cor
Toda vez
Toda vez
Toda vez
Que ameaça chover

Tiago André Vargas


Fotografia de Gökçe Dilek.


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