quinta-feira, 21 de abril de 2011

Sol, volta pra mim


Eu queria poder te reencontrar, te dizer que o tempo passou displicente enquanto eu desperdiçava meu sol no vazio. Eu queria poder segurar tua mão pequena e te provocar um tremor na alma, queria voltar para o centro do teu mundo e te ver girar ao meu redor. Eu queria você sentada na grama dura, de costas curvas ao me abraçar fazendo caretas por causa do sol forte. O sol forte. O sol queimando sobre nossos corpos discretos espalhados no verde, derretendo nossa emoção numa só. Mas agora, é só lembrança. Você se atreveria a levar outra pessoa naquele lugar? Não no nosso lugar... É ainda o nosso lugar? Não existe mais espaço nem lugar para nós.
O que existe é meu coração como uma vela, esmiuçando toda e qualquer fuligem para nos mantermos vivos, brilhando em algum lugar, em alguma rua sem saída na minha mente.
E enquanto eu escrevo e essa música toca o que você está fazendo? Sem sol a girar... Sem espaço nem lugar... Volta pra mim?


Autoria de Tiago André Vargas

Foto encontrada aqui.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Copo e água




Às vezes eu me acordo, em noites penosas que custam tanto a passar... Cobram um pouco da nossa vitalidade, como uma espécie de suborno para a luz voltar e assim, um novo dia surgir. Nestes dias eu caminho até a cozinha e na ponta dos dedos alcanço o copo largo de whisky, não que eu queira beber, esquecer, foda-se. Eu gosto daquele copo porque o gelo dança dentro dele. Igual minha mente. Eu e meu copo de whisky com água e uma pedra torta de gelo girando, dançando, derretendo, sumindo, atravessando a madrugada.
Copo.
Copo.
Eu olho através do copo com água e às vezes, algumas vezes, pelo sono ou pela insônia ou pela vontade de dormir ou não, pelo total desinteresse do dia seguinte parece, enfim, que eu posso ver meu futuro. Ou...
Eu gosto de olhar pelo copo com água para ver minha imagem refletida às avessas. Uma lembrança da infância, um cheiro de fruta vermelha, um copo quebrado seguido de choro, uma surra injusta pela travessura, pipoca no colo da avó. O que mais?
É como voar sem combustível, no embalo.
Os olhos pairam mortos sobre a cortina estampada que não combina com nada, a mão compulsiva e senil fazendo pequenos movimentos circulares, mas com estilo, e você voa.
Para onde você vai? Lá importa. Desde a lembrança de quem é você, imagem mais limpa que o reflexo da água, desde quem será você e, assim espero, que a imagem seja turva o suficiente para a emoção e nítida o bastante para sua motivação.
Copo na boca. Grandes goles. Copo na pia. Amanhã tenho que acordar cedo.

Autoria de Tiago André Vargas


Foto encontrada aqui.

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